sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ah, é só uma roupa.

estava lendo o huffington post agora há pouco e tropecei num artigo bastante pobrezinho desdenhando a apreciação pela moda. christina patterson (quem?) começa contando que, quando tinha 13 anos, era obcecada por moda, uma inclinação tão rasa quanto sua convicção de que sua mãe, por não lhe dar os vestidos que queria, era uma bruxa malvada. tal é o tom do artigo: o cérebro de uma menina de 13 anos ainda não desenvolveu senso crítico e julgamento e essa é a única – única possível e imaginável – razão pela qual alguém poderia perder seu tempo preocupando-se com roupas. ela segue alfinetando coco chanel e anna wintour, apontando aqui e ali o caráter financeiro da moda. sim, o alto preço.
essa é uma questão delicada e não quero me afobar na discussão. nesse ponto, tenho realmente algumas ressalvas: é evidente que uma bolsa hermès é produto de uma tradição, um expertise que foi sendo construído aos poucos e com esmero; é verdade que o couro é quase precioso de tão bom, que é tudo incrivelmente bem-feito. mas também acredito que poderiam custar um tanto menos. a mesma coisa vale para outras marcas. acho que toda a gama de preços do mundo da moda (assim como de outros ramos de bens de consumo) poderia baixar proporcionalmente, no meu universo ideal. é muito frustrante investir milhares de dólares numa peça de roupa enquanto tem gente na china ganhando apenas um dólar por dia para trabalhar uma jornada de 14 horas.
dito isso, acredito sim que, assim como (quase) tudo na vida, existe o lado perverso e o lado virtuoso da história. quando digo perverso, quero dizer o lado corrompido, um ideal decadente, algo em torno desse conceito. um exemplo: lá nos corredores do departamento de filosofia, você pode encontrar personagens extremamente diversos. nem todos são intelectuais per se, nem todos são inteligentes, nem todos estão ali por genuína apreciação do objeto de estudo, nem todos têm sequer um motivo. existem aqueles que estudam por vaidade. por um tipo de status. pois sim... não tem até mesmo gente que faz caridade em nome de embelezar a própria imagem social, alimentar o ego, ganhar status?
existem, enfim, filisteus em todo canto. existe muita gente que consome moda de maneira frívola, sim. mas mesmo essas pessoas podem ter uma faísca do que eu acho que muitas outras têm: apreciação estética genuína. aposto minhas fichinhas que lá no cérebro é ativada área análoga quando apreciamos um belo desfile de carlos miele (meu favorito) e uma ótima exposição de fotografia, por exemplo.
o corpo humano também tem sua parte nessa rede. a moda é feita, afinal, a partir dos contornos de nossa figura. e quantas vezes não só corpo quanto cobertura já foram retratados pelas artes visuais ou aludidos pela poesia? quantas vezes uma imagem não inspira uma música?
nossos corpos povoam esse mundo e estão constantemente fazendo parte da pintura espontânea que se desenrola diante de nossos olhos quando observamos o ambiente. qualquer que seja.
e o que dizer das culturas diferentes da nossa? o que dizer das africanas com seus tecidos maravilhosos e seus colares de miçangas, as tribos aqui no brasil com suas cestarias, cerâmica e padronagens que cobrem até seus corpos? o senso estético desses povos é assim tão extremamente diferente do nosso?
será que o impulso de querer embelezar-se é assim tão desprezível, tanto mais do que o impulso de, sei lá, degustar de uma comida sofisticada (algo que, por vezes, é também muito caro) ou embriagar-se no fim de semana ou faltar um dia de trabalho? ou que decorar a casa, por exemplo, seguindo o mesmo raciocínio, é também coisa de gente com cérebro subdesenvolvido?
desde quando criar um mundo belo e agradável é coisa de babaca?
fica a questão aberta (semi)... eu já tenho minha resposta, até que seja convencida do contrário.
e continuarei defendendo pessoas que estão envolvidas profissionalmente e emocionalmente com esse ramo – por que não – artístico, embora eu mesma não tenha relação tão enraizada, pois acredito que muitos são pessoas inteligentes e de bom senso (comum e estético).

2 comentários:

Kátia disse...

É isso aí, Maíra! A beleza e a estética são temas da filosofia tanto quanto os questionamentos sobre a felicidade, ética e nossa condição de humanos. Por uma razão muito simples: o belo emociona!
Mas, ainda que emocionados, não precisamos mesmo deixar de perceber e criticar os abusos, as perverções, posicionando-nos conscientemente ante suas variadas formas de expressão, revelação.
Vamos em frente!

Juci disse...

Olá...

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