terça-feira, 30 de junho de 2009

exercício de apresentação

a maioria de vocês deve me conhecer do meu brechó vanity feira. apesar de eu já ter um blog de palpites, achei por bem criar outro que fosse enfático quanto a conflitos que muitas de nós sem dúvida enfrentamos ao nos apresentar como mulheres. explico: em conversas com minha amiga mais amiga, dividimos experiências frustrantes de inserção em nossas áreas. ela é musicista e eu estudo filosofia. dois campos sensivelmente ocupados por mais homens do que mulheres, especialmente, no caso dela, porque toca música popular. nós duas já fizemos esforços para estarmos desarrumadas o suficiente para sermos levadas a sério pelos colegas. já tentamos perseguir estereótipos ("mulheres que tocam instrumentos são masculinas", "mulheres intelectuais não usam maquiagem" e outros absurdos) e, embora cultivemos coisas belas como música, pensamento, arte, sufocamos nossa admiração por outras instâncias de beleza menos cotadas pelos guardiães do cerebral representadas pela moda e por tudo o que parece ser apenas fruto de vaidade. pois somente agora, e tentativamente, juntei coragem e segurança para me posicionar quanto a isso. e assim, não me surpreender ao constatar que, ao aumentar a dose de roupas, sapatos, maquiagem, cuidados pessoais, não tive uma baixa de faculdades intelectuais ou contemplativas e nem tampouco analíticas. hoje em dia acho praticamente burro pensar de outra maneira. diria que não entendo essa esquizofrenia que tentam imprimir às mulheres, de que, se você comete a barbaridade de ser vaidosa e inteligente, deve viver com "dois lados": "ah, você tem um lado inteligente e um lado mulhezinha, superficial". ofensa! ofensa com 'o' maiúsculo. somos um todo, entre conexões e desconexões.
é mais fácil pensar que admirar moda tem ligação apenas com querer impressionar homens e mulheres, estar bonita para ganhar status e outros subprodutos do interesse puro. bem, bem... será que não é possível que exista aí nessa admiração algo que é análogo ao nosso cerne estético que gosta de arte, que admira e sente-se bem vendo uma paisagem, um céu como o de brasília (ufanismo gratuito), palavras bem enjambradas, que sente arrepios em certas mudanças de acorde e se emociona com o rosto de alguém que ama? pois eu acho que sim. estou convencida.
se vejo os vestidos de carlos miele, por exemplo, será que só penso em usar um para me auto-afirmar? certamente que não. primeiro, não penso em nada, só contemplo e admiro. não tem como descrever propriamente essa fruição do que é bonito, acho que todo mundo sabe como é, cada um a seu modo. depois, analiso e admiro novamente, pela criatividade, escolha de cores, adequação ao corpo, textura, movimento etc. uma simplificação meio panaca do processo, é verdade, mas já deu para ver onde quero chegar, não é?
desejo conhecer outras pessoas que tenham experiências parecidas e possam dividi-las, que superaram as expectativas de outros e aprenderam a não se dividir em duas ou sufocar aspectos naturais e muitas vezes benéficos de suas vidas apenas porque lidam com aparência.
não vou aqui fazer apologia ao consumo e nem me apressar em justificar excessos, acredito no convívio consciente com a moda (e – saliente-se – com tudo o mais, erudição aí inclusa). moderação é praxe, excesso quando é possível, abstinência quando é preciso.

dito isso, vou fazer um esforço para continuar comentando e palpitando sobre a enorme gama de assuntos que envolve o tema do blog, quem sabe casos específicos, entrevistas com pessoas interessantes, desabafos e entusiasmos. apareçam!